segunda-feira, 3 de outubro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO: Lourival Marques, gênio do rádio - Por Jota Alcides

Maior cidade do interior do Ceará, Juazeiro do Norte tem duas estações geradoras de televisão e oito emissoras de rádio. É o maior centro de radiodifusão do interior cearense. Na época de ouro do rádio no Cariri, finais dos anos 1960, Juazeiro brilhou com grandes nomes da radiofonia, inclusive exportando alguns valores para várias capitais: Carlúcio Pereira (Radio Sociedade da Bahia e Rádio Cruzeiro da Bahia); Jota Alcides (Rádio Clube de Pernambuco e Rádio Capibaribe do Recife), João Sobreira (Rádio Clube de Goiânia e Rádio Universitária de Goiânia), Wilton Bezerra (Rádio Uirapuru de Fortaleza e Rádio Verdes Mares de Fortaleza). Antes destes, Juazeiro já tinha exportado para São Paulo um radialista completo, Alceli Sobreira (Rádio Piratininga de São Paulo e Rádio Eldorado de São Pulo). Mas, essa história de Juazeiro exportar talentos radiofônicos começou bem antes, lá atrás, nos anos 1940. Quem abriu as portas do mercado radiofônico brasileiro para Juazeiro foi Lourival Marques que se celebrizou como Diretor Artístico da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e inscreveu seu nome entre os maiores vultos da radiofonia do País. Filho do jornalista Sebastião Marques dos Santos e Maria da Conceição Marques, Lourival Marques de Melo nasceu no Juazeiro em 15 de novembro de 1915., Ainda muito jovem teve dois momentos importantes com Padre Cícero, o fundador do Juazeiro: aluno da professora Amália Xavier, no Grupo Escolar, no fim do ano 1929 recebeu certificado do Curso Primário,em solenidade presidida pelo Padre Cícero. Em 1934, com 19 anos, testemunhou a multidão chorando a morte do Padre Cícero e escreveu uma crônica vigorosa: "Quando cheguei à janela tive a impressão de que alguma coisa monstruosa sucedia na cidade. Que espetáculo horroroso, esse de milhares de pessoas alucinadas, correndo pelas ruas afora, chorando, gritando, arrepelando-se... Foi então que se soube... O Padre Cícero falecera... Eu, sem ser fanático, senti uma vontade louca de chorar, de sair aos gritos, como toda aquela gente, em direção à casa desse homem, que não teve igual em bondade e nem teve igual em ser caluniado. Um caudal de mais de 40 mil pessoas atropelava-se, esmagava-se na ânsia de chegar à casa do reverendo... O povo, uma onda enorme, invadiu tudo, derrubando quem se interpôs de permeio, quebrando portas, passando por cima de tudo. Pediu-se reforço à polícia, mas o delegado recusou, alegando que o Padre era do povo e continuava a ser do povo". Lourival Marques, juazeirense, começou sua carreira radiofônica em 1937 como um dos fundadores do Centro Regional de Publicidade, rede de 18 alto-falantes em Juazeiro do Norte, primeira difusora de notícias, comerciais e de utilidade publica da região do Cariri. Seis anos depois, em 1943, deixou Aderson Braz em seu lugar e foi trabalhar em Fortaleza, na Ceará Radio Clube, então primeira e única emissora de rádio no Estado. Sua passagem pela PRE-9 foi discreta, sem chance para demonstrar . seu grande talento. Como era muito criativo e produtivo, resolveu ir para o Rio de Janeiro em 1945.. Ingressou na famosa PRA-9 Rádio Mayrink Veiga, onde lançou seu primeiro programa no Rio "Recordações em Desfile", em 1945, e depois na Rádio Globo, onde produziu e apresentou o programa "Cenas Brasileiras". Já nessa época, o cronista Alziro Zarur o destacou em sua página no jornal A Noite: "Esse Lourival Marques é uma avis rara da radiolândia carioca". Nessas duas emissoras, produziu mais de 20 programas. Depois, foi para a Rádio Nacional PRE-8. Quando Lourival Marques entrou em 15 de agosto de 1950, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, instalada num edifício de 22 andares na Praça Mauá, foi que se deu conta do gigantismo da então principal emissora do Brasil em comparação à modesta Ceará Rádio Clube: nove diretores, 240 funcionários administrativos, dez maestros, 33 locutores, 124 músicos, 55 radiatores, 39 radiatrizes, 52 cantores, 44 cantoras, dezoito produtores, um fotógrafo, 13 informantes, cinco repórteres, 24 redatores e quatro secretários de redação. Era uma indústria, uma fábrica de sonhos. Sentiu que tinha chegado ao seu lugar. Passou a fazer parte de um timaço dos melhores produtores de programas e de peças de radioteatro do Brasl que se tornaram grandes sucessos: "Coisas do Arco da Velha", de Floriano Faissal; "Gente que brilha" e "Nada além de 2 minutos", de Paulo Roberto; "Clube das donas de casa", de Lourival Marques; "Grande espetáculo Brahma", de Mario Meira Guimarães; "Hoje tem espetáculo", de Paulo Gracindo; "Música e beleza", de Roberto Faissal; "Nova Historia do Rio pela música" e "Recolhendo o folclore", de Almirante; "Passatempo Gessy", de Jota Rui; "Rádiosemana", de Hélio do Soveral; "Roteiro 21", de Dinarte Armando; "Seu criado, Superflit", de Lourival Marques e "Todos cantam sua terra", de Dias Gomes, "A vida que a gente leva" e "Boa tarde, madame", com Lucia Helena; "Consultório sentimental", com Helena Sangirardi; "Edifício Balança mas não cai", com Paulo Gracindo; "Grande Teatro De Millus", com Dias Gomes; "Jararaca e Ratinho", com Joe Lester; "Marlene, meu bem", com Mário Lago; "Os grandes amores da História", com Saint Clair Lopes; "Sabe da última?", com Rui Amaral e "Tancredo e Trancado", com Giuseppe Ghiaroni. Com o imenso sucesso de suas produções, virou Diretor Artístico da Rádio Nacional.O cast da emissora estava repleto de astros e estrelas da música brasileira: Orlando Silva, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Linda Batista, Luiz Gonzaga, Carmen Costa, Nelson Gonçalves, Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna, Carmélia Alves, Luiz Vieira, Zezé Gonzaga, Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Ademilde Fonseca, Nora Ney, Jorge Goulart, Neuza Maria, Adelaide Chiozzo, Jorge Fernandes, Dolores Duran, Lenita Bruno, Carminha Mascarenhas. Em 1951, Lourival Marques criou e lançou na Radio Nacional o programa que fez o maior sucesso até 1966: "Seu Criado, Obrigado". Sua secretária, Dayse Lúcidi, depois famosa disck-joquei, lia as perguntas dos ouvintes feitas por cartas, e o locutor César Ladeira, a mais bela voz do rádio brasileiro, apresentava as respostas com grande respeito, carinho e atenção. Foi um dos programas de maior audiência na história do rádio brasileiro. Com o enorme sucesso, atendendo aos pedidos dos ouvintes, Lourival publicou em 1.963 o livro "Seu Criado, Obrigado", com nomes e endereços dos ouvintes, suas perguntas e as devidas respostas. Homem de pesquisa, possuia uma enorme biblioteca onde colecionava jornais e revistas nacionais e estrangeiros que usava no apoio aos seus programas. Para aprimorar suas produções chegou a fazer estágio em rádio nos Estados Unidos. Além de "Seu Criado, Obrigado", Lourival Marques criou e lançou vários outros programas que se tornaram grandes atrações na Rádio Nacional: "Bahia dos meus amores", "A musica e o Dia", "Gente que faz a gente cantar","Radio Revista", "Dicionário dos Extremos", "Brasil pais dos mil Ritmos","Em cima do Fato", "Clube das donas de Casa". Mais programas de grande sucesso de Lourival Marques: Os locutores Jorge Cury e Reinaldo Costa anunciavam: "A Canção da Lembrança é um progrrama de Lourival Marques para Phimatosan, o tônico poderoso".. Era um dos mais lindos programas noturnos da Nacional, de extremo bom gosto. Sobre isso, ele declarou em 12 de outubro de 1948 em enrevista à Noite Ilustrada: O programa "Cenas Brasileiras", na Radio Globo, foi muito importante para mim porque foi o primeiro encontro com uma coisa chamada Phimatozan, o patrocinador. Eles gostaram tanto de mim que mais tarde, muito mais tarde, quando eu passei para a Radio Nacional, eles foram me procurar e me deram um programa que mantive durante muito tempo, que foi "A Canção da Lembrança". Constava de um glamuroso bate-papo entre um casal que ficava recordando músicas de filmes antigos. O casal lembrava e falava sobre um filme e sua canção-tema. Então, vinha a música, com um cantor ao vivo à frente de uma grande orquestra. Lourival era dono de um invejável arquivo musical. Outros programas que Lourival Maques escreveu com muito brlho foram 'Radio Almanaque Kolynos" e "Um milhão de Melodias". Em 1976, Lourival Marques escreveu o programa comemorativo dos 40 anos de história e de sucesso da Rádio Nacional. Usou uma série de entrevistas que ele fez com os mais famosos produtores, escritores, atores e locutores da Rádio Nacional na Era de Ouro do Rádio brasileiro. É um documento para a história. Ele escrevia muito. Ele próprio revelou no livro "Seu Criado, Obrigado" que escrevia, mensalmente, cerca de 500 páginas de programas para o rádio.Com tanta abrangência e influência que o cronista Rubem Braga chegou a declarar: "O povo brasileiro fala a língua da Rádio Nacional". Todos os programas criados ou escritos por Lourival Marques eram considerados um brinde à inteligência. Lourival Marques não tinha vícios. Seu vício era o trabalho. Não fumava e gostava de escrever durante o dia. Curiosamente, não ouvia seus programas. Casado com Maria Landim Marques, Lourival Marques teve duas filhas: Rosa Jaqueline e Carolina Landim. Deixou a Rádio Nacional em 01 de julho de 1978. Ficou morando no Rio, mas caiu no Vale dos Esquecidos. Entrou em depressão e passou seus últimos anos de vida em auto-reclusão. Morreu em data desconhecida. Até por sua ex-secretária Dayse Lúcidi. Nenhum jornal deu. Por mais incrível que pareça, nem a Rádio Nacional sabe. Apesar desse final insólito, Lourival Marques foi um gênio genial. Grande orgulho do Juazeiro na gloriosa história do rádio brasileiro.






*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "PRA-8 O Rádio no Brasil" e "O Último Repórter Esso".-


2 comentários:

  1. Duas pequenas correções:
    01 - Lourival era casado com Luci Landim Marques;
    02 - Tiveram 03 filhos, Vania landim Marque, Igor landim Marques e Eduardo Landim Marques;
    03 - Depois o casal adotou mais três filhas: jaqueline, Caroline e Vanusa.

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  2. Você esqueceu de citar, Barbosa da Silva e Robinson Xavier

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